segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Doutor Ulysses se encontra isolado geográfica, social e economicamente.


Longe da prosperidade
O município de Doutor Ulysses se encontra isolado geográfica, social e economicamente. Isso impede a instalação de indústrias na região, o que provoca falta de emprego, baixa renda e escassez na arrecadação de impostos
Doutor Ulysses - Desde que foi fundado, em 1993, o município de Doutor Ulysses, na região metropolitana de Curitiba, parece estagnado no tempo. A cidade é uma das quatro do Paraná que não possuem qualquer tipo de ligação por estrada pavimentada com o restante do estado – isolamento que impacta diretamente na vida dos 5.727 moradores. Coronel Domingos Soares e Mato Rico, ambas no Centro-Sul, e Guaraqueçaba, no litoral, são as outras três cidades sem acesso pavimentado.
Em Doutor Ulysses, a situação foi agravada no começo de agosto devido à chuva, que provocou a queda da ponte de 120 metros sobre o Rio Ribeira. A ponte ligava a cidade ao município de Cerro Azul, onde a maioria dos moradores adquire bens de primeira necessidade, como alimentos, roupas e medicamentos. Agora o único acesso da cidade passou a ser por Jaguariaíva, o que aumenta o trajeto a Cerro Azul em mais de 360 quilômetros.
“Como não temos hospital, dependemos de Curitiba. As estradas para chegar lá são ruins e ainda por cima temos de depender da balsa. Se tiver algum problema de madrugada, a situação fica ainda mais complicada.” - Rosenilda de Matos, 31 anos, dona de casa
Município não tem hospitais
A saúde pública de Doutor Ulysses é outro ponto preocupante. Sem um hospital, o município é obrigado a enviar seus pacientes para outras cidades. Durante a madrugada, a situação é ainda pior. Como a balsa que faz a travessia entre Cerro Azul e Doutor Ulysses funciona das 6 às 18 horas, fica impossível transportar qualquer paciente fora desses horários. A maioria deles é levada por Cerro Azul até Curitiba.

Mesmo antes, quando a ponte ainda estava em pé, o cenário era complicado. Familiares de doentes tinham de se deslocar até as casas dos motoristas das duas ambulâncias para que o transporte fosse concretizado. Os três médicos que trabalham no posto de saúde residem na capital paranaense.

Alexandre dos Santos, 51 anos, trabalha como motorista de uma das ambulâncias e relata que todo dia tem de levar pacientes para a capital. “Agora a gente depende da balsa. Isso complicou mais a situação”, diz. A dona de casa Rosenilda de Matos, 31 anos, geralmente se vê obrigada a levar seu pai de 56 anos para tratar de um problema na coluna. “Como não temos hospital, dependemos de Curitiba. As estradas para chegar lá são ruins e ainda por cima temos de depender da balsa. Se tiver algum problema de madrugada, a situação fica ainda mais complicada”, lamenta. (DA)

Por uma melhor educação
Com o pior índice de escolaridade do Paraná, Doutor Ulysses convive com a realidade das salas multisseriadas, nas quais um mesmo professor leciona para dezenas de estudantes de diferentes séries. Outra dificuldade é que as aulas às vezes são canceladas porque os professores vêm de Cerro Azul, cujo acesso está complicado, devido à queda da ponte que liga um município ao outro.

Mesmo com os problemas da ci­­da­­de, o morador Louridi Cândi­do Brás promete investir o que for necessário para ver a filha Silma­ra, de 14 anos, formada. “Ela quer muito fazer curso de Matemática e ser professora. Aqui o ensino é complicado, mas vou tentar fazer o máximo para que ela consiga”, afirma.

Louridi e a esposa Rosenilda moram com os dois filhos – o outro, Bruno, tem seis anos – em uma casa alugada de quatro cômodos. Eles têm renda mensal de R$ 500, sendo que R$ 100 é destinado ao aluguel. “Estamos apertando o que dá para economizar e para poder dar uma educação boa a eles.”

Em 2008, Doutor Ulysses recebeu sua primeira biblioteca pública – a Biblioteca Cidadã, que conta com 2 mil livros. O local foi equipado com aparelhos de televisão, vídeo e DVD, e possui um telecentro, com cinco computadores e acesso à internet. (DA)
Antes mesmo da queda da ponte, Doutor Ulysses se encontrava isolada, não só geograficamente, mas também social e economicamente. Com pontuação de 0,3584, o município tem o pior Índice Ipardes de De­sempenho Municipal, que reúne dados de emprego, renda, produção agropecuária, educação e saúde, referentes a 2008. Aparece também com o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com 0,6270 – a cidade de Ortigueira lidera a lista de 2000, com 0,620.

Uma das mais pobres do estado, Doutor Ulysses registra ainda o pior grau de escolaridade entre os 399 municípios paranaenses. Segundo o Censo de 2000, a população acima de 25 anos estudou em média apenas dois anos e meio. Já o rendimento domiciliar médio por habitante foi calculado no ano passado na casa dos R$ 325.

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