quinta-feira, 30 de abril de 2015

JORNAL CRUZEIRO DO SUL ENTREVISTA MAQUINISTA DE ITARARÉ

Fernando Guimarães fernando.guimaraes@jcruzeiro.com.br "Eu tenho muitas saudades. Até nos meus sonhos, sonho com trem!", afirma o ex-maquinista Agenor Almeida, de 66 anos, que mora no Jardim São Guilherme. Ele trabalhou na ferrovia entre os anos de 1968 a 1994, quando se aposentou. O ex-ferroviário diz que o sonho dele sempre foi trabalhar na ferrovia, em especial, conduzir locomotivas. Guiou muitas e diz ter boas recordações, mas há aquelas mais tristes, como a perda de amigos em acidentes. Agenor começou a trabalhar na cidade Itararé como trunqueiro, depois passou a trabalhar como mecânico. Trunqueiro, segundo ele, era aquele funcionário que unia os vagões. Depois, foi para Mairinque e Itapeva. Somente em 1974, é que foi promovido a maquinista. "O sonho da gente era ser maquinista. Não tinha quem não gostasse do trabalho. Acho que conduzir as locomotivas era uma sensação muito boa, era como se o maquinista tivesse o poder. Foi uma emoção muito grande quando peguei a primeira locomotiva", diz. Ele gostava mais de conduzir composição de passageiros, mas dirigiu muito mais trens de carga. "Já estava numa fase de decadência o transporte de passageiros. Tinha muito indigente, principalmente quando o governo lançou o passe-livre", conta. Agenor Almeida relembra com carinho das tarefas que tinha de fazer na ferrovia e adorava ouvir o som das locomotivas chegando às estações. Ele não acredita que a ferrovia volte a ser o que era antes: "Eu acho uma utopia! Mas, se for para voltar mais rápido, tudo bem, porque era um transporte muito lento. Imagine você que eu saía de Itararé para São Paulo e demorava dez horas", diz, lembrando que a distância de 450 quilômetros era vencida a uma velocidade média de 40 km/h. Na função que exercia chegou a fazer intercâmbios entre estados. Ia para o Paraná e Santa Catarina, por exemplo, transportando feijão, milho, soja, cevada, arroz e até gado: "Inclusive, numa ocasião, uma vaca deu cria no trem e fiquei com o filhote por bastante tempo até vendê-lo para aquele ator de tevê: o Carlos Casagrande". Agenor dirigiu modelos variados de locomotivas. A maior composição que guiou foi uma de 175 vagões. Essa era a vantagem da ferrovia sobre o transporte rodoviário, pois vagões podiam transportar uma quantidade de carga maior do que carretas ou treminhões, por exemplo. "Um caminhão parece que aguenta 45 toneladas, ou acho que nem isso; já um vagão aguenta 80 toneladas", afirma. Ele lamenta hoje ver a ferrovia deteriorada. "Era muito bom o trabalho", finaliza.

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