terça-feira, 10 de novembro de 2015

Igreja tem que repensar a autorização do casamento de padres.

Existem atualmente cerca de 90.000 sacerdotes católicos casados. O número é muito alto em comparação com o total de sacerdotes da Igreja católica: 413.418, segundo estatísticas de 2014. A relação entre eles e o rebanho de 1,2 bilhão de católicos no planeta é de 2.939 paroquianos por padre e 236.555 por bispo. Estes números foram destacados pelo Congresso Internacional da Federação Europeia de Padres Católicos Casados, que aconteceu neste fim de semana em Madri, e divulgados pelo jornal espanhol El País. A panorâmica se agrava com a diminuição das vocações sacerdotais, com a redução de 9% na quantidade de padres na ativa e com o envelhecimento geral dos sacerdotes, cuja média de idade está em 66 anos. Não falta quem afirme que a solução passa pelo fim do celibato obrigatório e pela ordenação sacerdotal de mulheres. O papa Francisco já descartou definitivamente, com base no Evangelho, a possibilidade de sacerdotisas católicas. Quanto à possibilidade de “flexibilizar” o celibato, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, já declarou publicamente que “o celibato obrigatório não é um dogma da Igreja e pode ser discutido, já que é uma tradição eclesiástica”. Não se trata de novidade alguma para quem conhece a doutrina da Igreja, o que não parece ser o caso da mídia: houve um grande alvoroço em torno das palavras do cardeal no ano passado, como se elas fossem “bombásticas”. O celibato obrigatório foi adotado no Segundo Concílio de Latrão, no ano de 1139. Antes, os padres podiam se casar – e havia inclusive alguns papas casados. No Concílio Vaticano II, na década de 1960, havia certa expectativa de que o celibato fosse tornado opcional, mas esta mudança não foi adotada. Outras mudanças adotadas pelo concílio, no entanto, visavam tornar a Igreja mais próxima das vicissitudes da humanidade, que passava por uma transformação cultural de intensidade inédita na história. A interpretação “elástica” dessa “atualização” pastoral da Igreja é até hoje apontada como um dos fatores que detonaram uma longa crise vocacional e de identidade sacerdotal. Aumentou dramaticamente a quantidade de padres que “penduravam a batina” – muitos deles sem qualquer formalidade, devido às demoras dos processos de discernimento que o Vaticano adota para conceder a chamada “redução ao laicato”, que é a formal autorização para que um sacerdote deixe o ministério e retorne à condição de leigo (embora, sacramentalmente, o caráter da ordem sacerdotal seja indelével). A Federação Internacional de Padres Católicos Casados se reuniu entre 1993 e 1996 com bispos e cardeais de diversos países e constatou as diferentes posições de membros da hierarquia eclesiástica no tocante ao celibato obrigatório. Parte da hierarquia foi e é decididamente contrária à revisão da norma, enquanto outra parte se mostrou disposta a reconsiderá-la. Entre estes, estavam o cardeal brasileiro dom Luciano Mendes de Almeida (“Por que esse desperdício de sacerdotes?”) e o arcebispo emérito de Madri dom Alberto Iniesta (“O Evangelho não me autoriza a lhes dizer que o que vocês estão tentando não seja evangélico. Será um longo caminho. Percorram-no a partir e com a comunidade”).

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