quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O TREM DE FERRO QUE SANTA CRUZ DOS LOPES SONHOU MAS NÃO VIU


Pouca gente sabe, mas na década de 20 a zona rural de Itararé era tão ativa que o sonho de construir uma estrada de ferro ligando a cidade aos bairros do Cerrado e Santa Cruz dos Lopes chegou a ser a grande esperança de todos.  Falo da Estrada de Ferro Itararé-Fartura, que ligaria estas duas cidades do sudoeste paulista ate Fartura e dela por prolongamento até a estação de Ourinhos.O governo de São Paulo chegou a aprovar sua concessão no ano de 1921.
Seu idealizador José de Sá Fragoso contava com projeto realizado pelo engenheiro Paulo Voigtlander. Outros nomes envolvidos eram os dos engenheiros C. Ladeira Roca, Eduardo Engler, Afonso Samartino, José David e Felix Schenizielow. 
Em 1924, os estudos definitivos foram aprovados pelo Presidente do Estado, Sr. Carlos de Campos. Em 28 de março deste ano, houve uma grande comemoração em Fartura, para comemorar "o lançamento das últimas balizas das picadas que vinham sendo abertas para a construção da estrada de ferro. A licença para a sua construção, no entanto, somente foi dada no final de junho como publicou "O Estado de S. Paulo" de 28/6/1924.

As obras, que deveriam começar imediatamente, foram sendo postergadas. No início de janeiro de 1925, elas ainda não tinham sido iniciadas e houve de ser emitida sucessivas prorrogações do prazo concedido para o início dos trabalhos. Em fevereiro, o governo assinou o contrato para as obras com o Sr. Fragoso.
Porém, somente em 26 de agosto de 1925 finalmente foram iniciadas, com festas, as obras do primeiro trecho da ferrovia que ligaria Itararé com o Bairro do Cerrado, no km 15 da ferrovia. 
Estas obras prosseguiram até novembro de 1926 aparentemente sem grandes percalços. Entretanto, a essa altura, os pagamentos para os trabalhadores estava sendo feito pela empresa construtora, a Lafayette, Siqueira e Cia., que, por sua vez não estavam recebendo os repasses contratuais que deveriam estar sendo feitos pela Cia. Estrada de Ferro Itararé-Fartura. 
Em abril de 1927, os operários estavam sem receber os quatro últimos salários mensais. Os fornecedores, maioria de Itararé, não suportavam mais manter o fornecimento, que gerou numa quebradeira inesquecível do nosso comércio.
No início, a construtora continuou afirmando que não estava recebendo o repasse da empresa proprietária. Logo depois, porém, desapareceram e a obra foi paralisada. Nesta altura, pelo que se conta, alguns quilômetros de trilhos tinham sido assentados e a estação inicial estava praticamente pronta, tendo sido feita nos altos da cidade de Itararé (Hoje, uma fazenda do Sr. Gumercindo Ferreira Santos). 
Também estava pronto um viaduto de pedras da linha sobra a rua Treze de Maio, no limite da área sul da cidade. Esta estrutura é a única coisa que sobrou desta ferrovia, existindo até os dias de hoje com mera função decorativa.
Aparentemente a sequencia de repasses foi parada no primeiro elo: o Governo do Estado, que era responsável pelo empréstimo de metade do valor do financiamento total da estrada. A empresa proprietária também parece ter parado de pagar sua parte à construtora. 
No final de abril de 1927, o presidente Carlos de Campos faleceu ainda no cargo. Foi substituído por Dino Bueno em caráter interino, até a posse do novo Presidente, Julio Prestes, em 14 de julho. Em 16 de maio, Dino ainda assinou um decreto desapropriando terrenos na comarca de Itararé. Depois de empossado em julho, Julio, abandonou de vez qualquer ajuda a nova ferrovia, preferindo investir na EFS (Sorocabana) que já era uma realidade. 

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