domingo, 2 de janeiro de 2011

Dilma chora e promete erradicar miséria




O governo Dilma Rousseff começou ontem com 13 citações diretas a Lula, promessas de continuidade, compromisso de erradicar a miséria, combater a inflação e mensagens de reconciliação com a oposição e militares.

No discurso de posse no Congresso Nacional, a primeira mulher eleita presidente do Brasil inspirou-se no antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, e anunciou como prioridade do novo governo a erradicação da miséria.

Eleita com 56 milhões de votos no segundo turno, depois de uma campanha renhida com o tucano José Serra, Dilma chorou ao dizer que, a partir daquele momento, era a presidenta de todos os brasileiros. Citou como outras prioridades saúde, educação e segurança pública e prometeu empenho nas reformas política e tributária.

A luta mais obstinada do meu governo será pela erradicação da pobreza extrema e criação de oportunidades para todos, discursou Dilma, que evitou o vermelho do PT e vestiu um tailleur off-white (nova denominação para o tom pérola). Uma expressiva mobilidade social ocorreu nos dois mandatos do presidente lula, mas ainda existe pobreza a envergonhar nosso país. Não vou descansar enquanto houver brasileiros sem alimentos na mesa, enquanto houver famílias no desalento nas ruas, enquanto houver crianças pobres abandonas à própria sorte, disse a presidente, interrompida várias vezes por aplausos.

Oito anos antes, no mesmo plenário da Câmara, ao dar início ao primeiro mandato, Lula concentrou-se na meta do fim da fome. Enquanto houver um irmão brasileiro ou uma irmã brasileira passando fome, teremos motivo de sobra para nos cobrirmos de vergonha, discursou. E emendou: Se, ao final do meu mandato, todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida.

Depois de percorrer a Esplanada no Rolls Royce da Presidência, sob uma chuva cerrada que a obrigou a fazer o trajeto em carro fechado e afastou militantes e admiradores das ruas, Dilma chegou ao Congresso às 14h40.

Nos 39 minutos de seu primeiro discurso oficial -- o segundo ocorreu no parlatório -- Dilma abusou, no início, da carga emocional, interrompido vez ou outra por gritos Dilma e o refrão petista historicamente associado a Lula Olê-Olê-Olá, mas descambou para um tom técnico e protocolar e só retomou a espontaneidade no fim, Dilma destacou o fato de ser a primeira mulher presidente do País e referiu-se a si própria como presidenta.

Lembrou o passado de militante contra a ditadura militar. Suportei as adversidades mais extremas infligidas a todos que ousamos enfrentar o arbítrio. Não tenho qualquer arrependimento, tampouco ressentimento ou rancor. Muitos da minha geração, que tombaram pelo caminho, não podem compartilhar a alegria deste momento. Divido com eles esta conquista, e rendo-lhes minha homenagem, afirmou Dilma, retomando a autenticidade do início do discurso e despertando novamente aplausos espontâneos. Nos trechos mais técnicos, a plateia, apesar de silenciosa e atenta, batia palmas sem entusiasmo.

A presidente prometeu dar garantias das liberdades individuais, de culto, religião, imprensa e opinião. Com isso, procurou encerrar uma das maiores dificuldades da campanha eleitoral: as notícias de que tinha posições contrárias aos princípios religiosos, como a defesa do aborto. Ao mesmo tempo, marcou diferença em relação à defesa do controle da mídia que cresceu no governo Lula.

Dilma chegou ao plenário da Câmara sorridente e bastante à vontade em um ambiente que muito raramente frequentou nos oito anos em que esteve no ministério de Lula. A plateia era formada por parlamentares, atuais e futuros ministros, chefes de Estado, governadores e da família da presidente e do vice, Michel Temer. Com uma sólida maioria no Congresso, Dilma acenou para a oposição, representada no plenário por alguns congressistas e governadores. Mais uma vez estendo minha mão aos partidos de oposição e as parcelas da sociedade que não estiveram conosco na recente jornada eleitoral. Não haverá de minha parte discriminação, privilégios ou compadrio, prometeu.

Ao contrário da família da presidente, que assistiu à solenidade do alto, na tribuna de honra, os parentes de Michel Temer estavam a poucos metros do vice-presidente, na primeira fila do plenário, com os lugares reservados desde a véspera. Embora tenha citado algumas vezes o ex-presidente, Dilma não fez de Lula o personagem central de seu discurso. Exaltou as realizações do antecessor e prometeu continuidade com mudança.
SERÁ QUE DILMA CONSEGUIRÁ SE LIVRAR DO FANTASMA DE LULA NA ADMINISTRAÇÃO?

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