quinta-feira, 26 de outubro de 2017

PARA REFLETIR DIA 20 DE NOVEMBRO


Zumbi ganhou um retrato muito diferente por historiadores marxistas das décadas de 1950 a 1980. Décio Freitas, Joel Rufino dos Santos e Clóvis Moura fizeram do líder negro do século 17 um representante comunista que dirigia uma sociedade igualitária. Para eles, enquanto fora do quilombo predominava a monocultura de cana-de-açúcar para exportação, faltava comida e havia classes sociais oprimidas e opressoras (tudo de ruim), em Palmares não existiam desníveis sociais, plantavam-se alimentos diversos e por isso havia abundância de comida (tudo de bom).
”Nesta bibliografia de viés marxista há um esforço em caracterizar Palmares como a primeira luta de classes na História do Brasil”, afirma a historiadora Andressa Barbosa dos Reis em um estudo de 2004.
A imaginação sobre Zumbi foi mais criativa na obra do jornalista gaúcho Décio Freitas, amigo de Leonel Brizola e do ex-presidente João Goulart. No livro Palmares: A Guerra dos Escravos,
Décio afirma ter encontrado cartas mostrando que o herói cresceu num convento de Alagoas, onde recebeu o nome de Francisco e aprendeu a falar latim e português. Aos 15 anos, Atendendo ao chamado do seu povo, teria partido para o quilombo. As cartas sobre a infância de Zumbi teriam sido enviadas pelo padre Antônio Melo, da vila alagoana de Porto Calvo, para
um padre de Portugal, onde Décio as teria encontrado.
Ele nunca mostrou as mensagens para os historiadores que insistiram em ver o material.
A mesma suspeita recai sobre outro livro seu, O Maior Crime da Terra. O historiador Cláudio Pereira Elmir procurou por cinco anos algum vestígio dos registros policiais que Décio cita. Não encontrou nenhum. ”Tenho razões para acreditar que ele inventou as fontes e que pode ter feito o mesmo em outras obras”, disse-me Cláudio no fim de 2008. O nome de Francisco, pura cascata de Décio Freitas, consta até hoje no Livro dos Heróis da Pátria da Presidência da República.
Também se deve à historiografia marxista o fato de Zumbi ser muito mais importante hoje em dia do que Ganga Zumba, seu antecessor.
Enquanto o primeiro ficou para a história como herói da resistência do quilombo, seu tio faz o papel de traidor. Essa fama se deve ao acordo de paz que fez com os portugueses em 1678. Ganga Zumba, recebido em Recife quase como chefe de Estado, prometeu ao governador de Pernambuco mudar o quilombo para um lugar mais distante e devolver os moradores que
não tivessem nascido em Palmares. Em troca, os portugueses se comprometeriam a deixar de atacar o grupo.
Os historiadores marxistas acharam a promessa de entregar os negros uma traição, que Zumbi teria se recusado a levar adiante. ”A ele [Zumbi] foram associados os valores da
guerra, da coragem, do destemor e principalmente a postura de resistir continuamente às forças coloniais”, conta a historiadora Andressa dos Reis.
”Esta visão de Freitas foi a imagem do Quilombo e de Zumbi que se cristalizou nas décadas de 1980 e 1990.” Os poucos documentos do período não são o bastante para dizer que Zumbi agiu diferente de Ganga Zumba e foi mesmo contra o acordo de paz. Se foi, pode ter agido contra o próprio quilombo, provocando sua destruição. Acordos entre comunidades negras e
os europeus eram comuns na América Latina - e nem sempre os quilombolas cumpriram a promessa de devolver escravos. No Suriname, o quilombo dos negros chamados saramacás respeitou o acordo de paz com os holandeses.
(DO LIVRO “Guia politicamente incorreto da História do Brasil”)

Um comentário:

  1. Inicialmente, duas observações: o autor desse livro foi jornalista da Veja, o que mostra sua parcialidade e falta de compromisso com a verdade, em segundo lugar trata-se de 'best-seller' o que o desqualifica como livro de História.

    História é a ciência por excelência e deve ser tratada como tal, com estudo e pesquisa, mas de forma séria, sem 'marketing' com finalidade apenas de venda de livros.
    O autor em questão comete várias barbaridades, entre elas a que trata de Santos Dumont, pois falseia fatos e inventa outros. Assim, Dumont forna-se apenas um aproveitador que não tem nada que ver com aviões. Outra falsificação mercê de achismos é esse sobre Zumbi herói negro. Talvez, por isso mesmo aconteça a sanha de destruí-lo.

    Por último, todo revisionismo histórico sem seriedade é fadado a não ser levado a sério pelos estudiosos e pesquisadores de História. É o caso desse oportunista que é o Leandro Norloch.

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