quarta-feira, 21 de abril de 2021

TIRADENTES UMA CRENÇA OU REALIDADE????

Inúmeros artigos reiteram que é falso o mito Tiradentes que nunca foi enforcado e esquartejado. A História “oficial” começa com a construção e consolidação, em 1890, de Joaquim José da Silva Xavier, vulgo Tiradentes, como mártir da Independência, quando o correto seria mártir da República Mineira Maçônica. Nem isso, porque como não morreu na forca, mas de velhice no Rio de Janeiro, nada deu de si em sacrifício, a não ser desfrutar a vida nababesca das cortes francesas e europeias pós-revolução. Reza a lenda que depois de enforcado, foi esquartejado, seus membros espalhados pelo Rio de Janeiro, onde se deu o “sacrifício”, e a cabeça foi salgada e levada para Vila Rica, atualmente Ouro Preto. Foi colocada em um tipo de gaiola em um mastro alto onde ninguém podia vê-la, e mesmo assim roubada no dia seguinte. Suas terras foram salgadas e seus parentes malditos até a quinta geração e blá, blá. blá… Essa papagaiada toda que engolimos a seco nunca foi admitida pela imprensa da época, pelo patrono da imprensa brasileira Hipólito José da Costa, fundador do Correio Brasiliense, o primeiro jornal do Brasil, nem por Machado de Assis, Kenneth Maxwell ou Marim Francisco de Andrada. Eram contemporâneos e tiveram acesso a testemunhos e documentos que, se não sumiram, estão bem ocultos nas bibliotecas em que só os bravos ousam adentrar. Tiradentes era um alferes, um militar, ocupava um posto semelhante hoje a um tenente. Estamos no século 18, não nos dias de hoje, quando protocolos e regras são quebrados sob qualquer pretexto, mas em uma época em que era impensável enforcar um membro das forças armadas, por pior que fosse seu crime. Só se enforcavam ladrões, assassinos e mesmo assim sem patente, sem recursos e sem família. Tiradentes era militar e o protocolo exigia que fosse fuzilado. Tiradentes era maçom, assim como toda a conspiração, chamada Inconfidência, para separar Minas Gerais de Portugal e do Brasil, inspirada na revolução francesa. Todos foram perdoados pela coroa portuguesa, mesmo porque d. Maria I, a Piedosa, não gostava de guilhotinas, forcas ou fuzilamentos, visto que muitas de suas tias e primas foram vítimas da revolução francesa. O perdão de Tiradentes saiu no dia seguinte à farsa do enforcamento, por coincidência, e foi lido publicamente. O estudo mais acurado do caso, aliás, deve passar pela pesquisa sobre a influência da Maçonaria no Brasil, sobretudo em Minas Gerais até o Rio de Janeiro no século 18 e 19. Recomendo a leitura de “Tiradentes, o poder oculto o livrou da forca”, de Assis Brasil. Mas esse é um tema transversal que mereceria muito mais espaço e tempo. Tiradentes foi julgado e permaneceu na prisão até o dia que recebeu a notícia de seu perdão, entretanto, foi montada uma farsa, um auto que teve como coadjuvante o ladrão Isidro de Gouveia, que já iria morrer na forca, mas tomou seu lugar com a promessa de que sua família receberia uma pensão. As testemunhas ouvidas à época não reconheceram a figura de Tiradentes como o condenado que subia o patíbulo, tanto pela idade que aparentava como pela altura. Nem mesmo sua amante, que deveria ser a que mais intimidade tinha com ele, chegou a reconhecê-lo, embora estivesse sempre próxima. Esses relatos constam das reportagens de Hipólito da Costa e de Martim Francisco de Andrada: ‘ “Durante todo o processo, ele admitiu voluntariamente ser o líder do movimento, porque tinha a promessa que livrariam a sua cabeça na hipótese de uma condenação por pena de morte. Em 21 de abril de 1792, com ajuda de companheiros da Maçonaria, foi trocado por um ladrão, o carpinteiro Isidro Gouveia. O ladrão havia sido condenado à morte em 1790 e assumiu a identidade de Tiradentes, em troca de ajuda financeira à sua família, oferecida a ele pela Maçonaria. Gouveia foi conduzido ao cadafalso e testemunhas que presenciaram a sua morte se diziam surpresas porque ele aparentava ter bem menos que seus 45 anos.. No livro, de 1811, de autoria de Hipólito da Costa (“Narrativa da Perseguição”) é documentada a diferença física de Tiradentes com o que foi executado em 21 de abril de 1792. O escritor Martim Francisco Ribeiro de Andrada III escreveu no livro “Contribuindo”, de 1921: “Ninguém, por ocasião do suplício, lhe viu o rosto, e até hoje se discute se ele era feio ou bonito…”. O corpo do ladrão Gouveia foi esquartejado e os pedaços espalhados pela estrada até Vila Rica (MG), cidade onde o movimento se desenvolveu. A cabeça não foi encontrada, uma vez que sumiram com ela para não ser descoberta a farsa. Os demais inconfidentes foram condenados ao exílio ou absolvidos. Machado de Assis, sempre atento aos desmandos da República da época, também desmente a versão do enforcamento: “Daqui a espião de polícia é um passo. Com outro passo chega-se à prova de que ele nem mesmo morreu; o vice-rei mandou enforcar um furriel muito parecido com o alferes, e Tiradentes viveu até 1818 de uma pensão que lhe dava D. João VI. Morreu de um antraz, na antiga rua dos Latoeiros, entre as do Ouvidor e do Rosário, em uma loja de barbeiro, dentista e sangrador, que abriu em 1810, a conselho do próprio D. João, ainda príncipe regente…” É também justo dar o devido crédito ao prof. Marcos Corrêa, que dedicou sua vida a desfazer a mentira do enforcamento de Tiradentes, lutando contra a ignorância acadêmica e a desinformação nos anos 80 e 90, quando não tínhamos internet, sistemas online ou mobilidade para pesquisar. Especializado em grafologia, identificou a assinatura de Tiradentes em documentos oficiais na França em 1792, e mesmo com provas científicas foi ridicularizado por supostos intelectuais que tinham na bagagem um mero canudo da USP e meia dúzia de livros patrocinados pelos governos da época, que tinham todo o interesse em contar a história da carochinha para os brasileiros. Em Portugal, há muito se sabe da lenda de Tiradentes e somos motivo de riso, quando não de escárnio. O desembargador Simão Sardinha, que o conheceu no Brasil, chegou a se encontrar com ele em Lisboa, que fugiu para não ser reconhecido. Este seu depoimento está em carta pesquisada pelo prof. Corrêa, nos arquivos da Torre do Tombo. Muitas das fontes e documentos estão abaixo e podem ser consultadas. Segundo o estudo, Joaquim José assumiu o nome de Antônio Xavier, voltou ao Rio de Janeiro, abriu uma botica na rua dos Latoeiros e morreu de morte natural. Fim. E aí, qual será a verdadeira história desse episodio?

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